quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

"Foi difícil vencer o ambiente masculinizado da fotografia de jornal", diz Márcia Foletto

Márcia Foletto, repórter fotográfica de O Globo (Foto: Autor não informado pela reportagem/Todos os Direitos Reservados)

Portal Imprensa

O potencial transformador da imagem e da palavra foram os combustíveis que levaram Márcia Foletto a trabalhar com as duas ferramentas. Jornalista e fotógrafa, iniciou a carreira no diário A Razão. Passou por dois veículos do Grupo RBS, Pioneiro e Diário Catarinense, e desde 1991 integra a equipe de O Globo (RJ), passando primeiramente pela editoria dos "Jornais de Bairro", depois pela "Rio", onde cobre assuntos de cidade, polícia, meio-ambiente e política.

Márcia participou de diversas coberturas importantes, como a Rio-92, a chacina da Candelária em 1993 e as eleições presidenciais de 1994, 1998, 2002, 2006 e 2010. Em um período mais recente, se especializou na cobertura de "Cidade" e "Polícia", registrando também o dia a dia da guerra urbana.

Finalista da 10ª edição do "Troféu Mulher IMPRENSA" na categoria "Repórter Fotográfica", ela concorre ao lado Ana Carolina Fernandes (Reuters / fotógrafa freelancer), Annaclarice Almeida (Diário de Pernambuco – PE), Marlene Bergamo (Folha de S.Paulo) e Monique Renne (Correio Braziliense). Em entrevista à IMPRENSA, a jornalista falou sobre momentos importantes de sua carreira e os desafios da profissão.

Quais são as dificuldades de exercer o fotojornalismo? 
As dificuldades vão mudando ao longo das décadas. Já foi difícil vencer o ambiente masculinizado da fotografia de jornal onde para as mulheres era reservado apenas matérias leves e retratos. Também foi difícil aprender a trabalhar com um equipamento cada vez mais pesado e manter a força física para realizar os trabalhos. Mas, hoje, o grande desafio para nós fotojornalistas é trabalhar com a velocidade da informação, onde a foto precisa estar no ar imediatamente. Buscar uma imagem significativa e diferente com a urgência da internet é a maior dificuldade.

O que você mais admira na profissão?
O que me levou a fazer jornalismo, ainda na adolescência: a capacidade de transformação e de fazer sentir provocados por uma bela imagem ou uma boa reportagem.

Você ganhou um prêmio por uma foto de crianças sendo revistadas por soldados do Exército em uma favela do Rio de Janeiro (RJ). Como foi fazer essa imagem?
Em 1994, fiz uma foto de crianças que voltavam da escola no Morro Dona Marta, em Botafogo. A favela estava ocupada pelo Exército, durante a Operação Rio II e eles estavam revistando todos, inclusive as crianças. A foto mostrou vários dos estudantes, com idade entre 8 e 12 anos, com as mãos encostadas na parede, sendo revistadas por soldados armados. A foto foi publicada no capa d'O Globo no dia seguinte e chocou o país. Imediatamente, o Exército suspendeu a revista em crianças. Um exemplo de uma fotografia que transforma.  Esta imagem foi premiada com o Prêmio Finep de Fotojornalismo em 1995.

Qual foi o trabalho que mais marcou para você em 2013? 
Em 2013, eu fiquei metade do ano sem fotografar por problemas de saúde, mas fiz uma imagem, em setembro que foi marcante para mim. Uma cena surreal na Central do Brasil. Enquanto homem acusado de roubo é revistado pelo policial militar, adolescente tentar furtar sua carteira. O mais incrível da cena é que o menor não se sente intimidado pelo policial e muito menos pela câmera, que estava a poucos metros. Esta imagem faz parte de uma sequência de fotos, onde o menino tenta por três vezes pegar a carteira do homem, até todos serem liberados pela polícia.

Como foi saber da indicação ao prêmio? 
Para mim, o grande prêmio é ser lembrada e indicada todos os anos por colegas jornalistas. Isso é que me enche de orgulho.

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