domingo, 20 de janeiro de 2013

Missão: fotografar o Brasil


Henrique Kugler, do Ciência Hoje/ Rio

Eram tempos de guerra. E, armada com sua câmera fotográfica, veio ao Brasil Genevieve Naylor(1915-1989). Uma missão política, uma viagem nada inocente. Naylor estava a serviço do governo estadunidense, como recruta de uma ofensiva diplomático-artística que visava azeitar as relações dos Estados Unidos com os países do continente.

Afinal, estávamos em meio às tensões da Segunda Guerra. E, temeroso de um possível alinhamento das nações latino-americanas aos ideais nazifascistas, o presidente ianque Franklin Delano Roosevelt (1882-1945) levou a sério o que entraria para os livros de história como Política da Boa Vizinhança.

Estratégia eficaz. Uma exitosa persuasão ideológica continental, arquitetada em minúcias, seria o bastante para garantir a adesão dos latinos ao American way of life, afastando o fantasma de Adolf Hitler (1889-1945) e aproximando, cultural e politicamente, as nações tupiniquins dos interesses geopolíticos e comerciais dos Estados Unidos.

Funcionou. “Os brasileiros aprenderam a substituir os sucos de frutas tropicais por uma bebida de gosto estranho e artificial chamada Coca-cola. Começaram também a trocar os sorvetes feitos em pequenas sorveterias pelo sorvete industrializado chamado Kibon. Aprenderam a mascar uma goma elástica chamada chiclete e começaram a usar palavras novas que foram se incorporando à língua falada e escrita. Passaram a ouvir o foxtrot, o jazz, o boggie-woogie, entre outros ritmos [...] e começaram a ver muito mais filmes produzidos em Hollywood”, escreveu o historiador Gerson Moura, no livro Tio Sam chega ao Brasil (Brasiliense, 1984), contextualizando o que, para alguns, foi o início da chamada invasão cultural norte-americana.

No cerne de tamanha maquinação política, havia metas prioritárias para otimizar os mecanismos de convencimento ideológico. E, no espírito da boa vizinhança, eram três as principais frentes de atuação do governo norte-americano: “investimento em meios de comunicação; investimento intensivo em publicidade; e fomento de uma estrutura assistencialista de saúde e alimentação”, elenca a historiadora Ana Mauad, da Universidade Federal Fluminense (UFF).

E aqui entra em cena nossa personagem, a fotógrafa Genevieve Naylor. “Ela viera comissionada para atuar no setor de informação, que, entre outras coisas, visava à produção de imagens sobre o Brasil”, explica Mauad. “Nesse contexto, a visualidade – fotografia, cinema, publicidade – sedimentou a ponte pela qual a aproximação cultural entre as Américas se realizou.”

Fotógrafa da boa vizinhança

O trabalho de Naylor era fotografar o Brasil. Mas algo saiu errado. Em vez de cumprir seu desígnio e fotografar somente os protocolos oficiais – aspectos turísticos, símbolos do poder ou cenas estereotipadas de um Brasil fabricado –, a fotógrafa registrou em seus cliques um país que transcende a imagem oficialesca requisitada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda, o famoso DIP, que, de perto, monitorava seus passos.

Naylor se envolveu com o país e com seus habitantes. E, mais que capturar imagens, ela própria fora capturada pelos encantos da terra que visitava. Levou daqui “um olhar 'não-turístico' de um país que muitos [norte-]americanos ainda associavam somente à dama do chapéu tutti-frutti”, escreveu o historiador Robert Levine, em referência ao sucesso que Carmem Miranda fazia nos Estados Unidos à época.

Na capital carioca, Naylor registrou em clima intimista o cotidiano praieiro. Também viajou a São Paulo, Belo Horizonte, Maceió, Aracaju, Salvador e diversos locais do interior do país. Percorreu o rio São Francisco; fotografou cidades anônimas do sertão. Nas palavras do escritor Aníbal Machado (1884-1964), a obra de Naylor é um resumo etnográfico” do Brasil da década de 1940.

Para Mauad, tão relevante quanto a excelência técnica de seu trabalho é o sentido sociológico com que usou sua objetiva. “Foi sua maneira de fixar uma realidade que nada tinha de monumental.”

Equipada com sua rolleiflexe com sua speedgraphic, Naylor fotografava quase sempre com luz natural. Retratos do cidadão comum, paisagens cotidianas, aspetos pitorescos de culturas ribeirinhas, dramas sociais vividos por comunidades interioranas. Nada escapou ao olhar da fotógrafa.

Seus enquadramentos, angulados por baixo, definiram parte de sua predileção estética e deixaram transparecer a postura intimista com que abordava os assuntos.

Mas em seu fazer fotográfico Naylor contava, sobretudo, com o que chamou de “boa vontade dos brasileiros”. “São tão naturais, tão espontâneos e afetivos, que a câmera simplesmente os adora”, relatou certa vez. De fato, Naylor jamais precisou apelar ao recurso do flagra. Afinal, os fotografados consentiam sua carismática e discreta presença.

Era habilidosa em transitar, com naturalidade, do popular ao sofisticado. Não por acaso, seguiu carreira em fotografia de moda – tendo posteriormente atuado nas revistas Vogue e Harper’s Bazaar.

Por aqui, Naylor ainda é um tanto desconhecida. O primeiro livro sobre seu legado, em português, deve ser lançado somente este ano, pelo editor e colecionador George Ermakoff.

Enquanto isso, curiosos podem apreciar, neste recente artigo publicadon(http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1299450863_ARQUIVO_Proposta_Mauad_2011.pdf) por Mauad, algumas das fotografias produzidas por Naylor em sua passagem pelo Brasil; e, neste vídeo (http://ufftube.uff.br/video/N8YX89O2MM5X/Brasil-de-Genevieve-Naylor, alguns de seus principais registros ao som de Carmem Miranda; também este blogue (http://ufftube.uff.br/) traz belas imagens feitas pela fotógrafa.

Missão cumprida

As mais de 1.300 fotografias de Naylor sobre o Brasil fizeram bastante sucesso nos Estados Unidos, com exposições que circularam por todo o país a partir de 1943. Naylor foi uma das primeiras mulheres a expor no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, como contextualiza Mauad em artigo na Revista Brasileira de História. Aliás, ela foi também uma das primeiras fotojornalistas, abrindo alas para as mulheres num campo profissional classicamente ocupado por homens.

Trabalhou na Associated Press e fotografou para as revistas Time e Fortune. E também para a Life, em cujas páginas o poeta e então cronista Vinícius de Moraes tomou conhecimento de seu trabalho. Encantado, não tardou a classificá-la como “americanazinha adorável“.

Importação cultural

No âmbito da Política da Boa Vizinhança, Genevieve Naylor não foi a única artista norte-americana a embarcar para o Brasil na década de 1940. Veio Walt Disney (1901-1966), que, inspirado em suas impressões sobre o país, desenhou o personagem Zé Carioca.

Além dele, esteve por aqui o cineasta Orson Welles (1915-1985), imbuído da tarefa de produzir o documentário It’s all true, (‘É tudo verdade’, em tradução livre). O escultor Jo Davidson (1883-1952) também cá aportou. Sua tarefa era esculpir bustos de presidentes em vários países do continente.

No pacote cultural norte-americanizante, também veio ao Brasil um novo jeito de se fazer radiojornalismo, que era o programa Repórter Esso.

E, na música, algo aconteceu: o governo estadunidense encarregou o maestro Leopold Stokowski (1982-1977) de gravar um álbum intitulado Native Brazilian Music, com representações autênticas da música brasileira – tarefa para a qual contou com o auxílio de Heitor Villa-Lobos (1887-1959). O registro, que jamais foi lançado em nosso país, foi descrito como uma “preciosidade sonora esquecida e que até hoje permanece extraviada de nossa cultura”, em recente reportagem da revista Rolling Stone.

Mas a via contrária, ainda que em ínfima proporção, também se deu. Do Brasil para os Estados Unidos foi o escritor Érico Veríssimo, convidado a ministrar um curso de literatura brasileira na Universidade de Berkeley, na Califórnia, além de outras pequenas iniciativas que contemplavam estudantes e profissionais com bolsas de estudo em território ianque.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Foto: Natajsha Kreischer

Calor

Foto: Luciana Magalhães

Voar, voar...descer, descer...

Foto: Luiz Almeida

Exposição fotográfica faz releitura de obra de Nelson Rodrigues



Fotografias inspiradas nas histórias de amor, mistério, traição e humor presentes na obra de Nelson Rodrigues estarão em cartaz, a partir desta quarta-feira (16), no Aeroporto Internacional do Recife. A exposição "A Vida Como Ela É – Releituras Fotográficas" é uma homenagem dos alunos recém-formados no Curso de Fotógrafo do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) ao centenário do autor.

No total, 14 fotos fazem parte da mostra, com as dimensões de 50x70 cm, e recriam a atmosfera do escritor pernambucano.                                

A abertura da exposição será às 19h e contará com a encenação de uma livre adaptação da peça Perdoa-me Por Me Traíres, de Nelson Rodrigues, pelos alunos do curso de licenciatura em teatro da Universidade Federal Pernambuco (UFPE).

Serviço

Exposição A Vida Como Ela É - Releituras Fotográficas
De 16 a 30 de janeiro
No Aeroporto Internacional dos Guararapes - Recife
Entrada franca

domingo, 13 de janeiro de 2013

"Câmera Viajante". Documentário que trata da fotografia enquanto atividade profissional

A Câmara Viajante é um documentário que trata de uma maneira bastante especial a fotografia enquanto atividade profissional, mas indo além disso, mostra o caráter substantivo da fotografia em relação à emoção. O filme é construído por aquilo que seus cinco principais personagens são, ou seja, dão vida, corpo e alma ao filme.

Nele, os cinco fotógrafos ambulantes caracterizam um sentimento que cultivam pela fotografia: enquanto um fotografa e sente a responsabilidade que lhe cabe ao participar das bênçãos alcançadas por seus clientes, outro se entrega à alegria, autonomia e liberdade que o exercício dá, chegando a comparar a fotografia a uma boa cachaça.

Em certo momento, assistimos todo processo de venda e realização de uma foto. O fotógrafo, nesse meio, precisa também ser um bom vendedor, persuadir e convencer o futuro cliente da importância da recordação, e nesse momento o diretor parece ter acertado ao ponto de conseguir alguns bons risos dos espectadores.



Gênero: Documentário
Diretor: Joe Pimentel
Direção de fotografia: Tiago Santana
Elenco: Belo, Chico Alagoano, Dedé da Neusa, Isaías, Júlio Santos
Ano: 2007
Duração: 20 min

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Flora P., a fotógrafa austríaca que revelou sua própria nudez para o mundo‏



Ela é linda. Vestida de ousadia e despida de pudores. Flora P. é modelo de si mesma, fotógrafa de si mesma, ela é tudo e ao mesmo tempo tão minimalista, muitos talentos em uma só pessoa. Flora nasceu em Styria, sul da Áustria, e começou sua carreira como modelo de nu e ao perceber que só ela mesma conseguiria dar vazão as suas próprias ideias não teve dúvidas, assumiu as lentes, se posicionando à frente e atrás delas, para nos brindar com imagens belíssimas de um nu que é romântico, erótico, sensual, provocante, complexo e ainda sim, simples. E desde então tem sido assim, hoje aos 28 anos, Flora viaja pelo mundo em busca de novas inspirações. Já se fotografou no alto dos prédios em Nova York, em escombros no leste da Alemanha, em pântanos na Grécia e até num campo perto de onde nasceu na pequena cidade de Styria.

Como surgiu a ideia de ser a fotógrafa de si mesma, ou modelo de si mesma, tudo ao mesmo tempo?
Como uma modelo de nu sempre senti a necessidade de realizar minhas próprias ideias. Durante as sessões de fotos eu sempre sentia isso, que somente eu poderia tornar real essa ideia. Meus primeiros auto-retratos foram publicados na Playboy em 2009. Nos anos seguintes consegui realizar algumas exposições e projetos.

O que a nudez significa pra você?
A nudez de minhas fotos não são necessariamente uma obrigação, mas apenas uma forma minimalista de mostrar a fotografia do nu. A nudez é a exibição do corpo e da alma.

Quais os segredos de uma boa fotografia?
Se a foto é boa ou não – só olho do observador dirá. Alguns prestam mais atenção à atmosfera; outros prestam mais atenção à técnica. O que vale mesmo em uma composição são os detalhes da imagem, e da harmonia das cores. Acho que no caso da fotografia de gente, a autenticidade e a expressão da pessoa fotografada têm um papel importante.

Posaria para outros fotógrafos? 
Bem no começo de minha carreira posei para outros fotógrafos. De 3 anos para cá tenho rejeitado convites de outros fotógrafos para apenas me fotografar.

Fotografaria outras modelos? 
Às vezes tiro fotos de mulheres e homens. Ao longo de minha experiência tem se tornado mais fácil para mim reduzir a ansiedade e o desconforto. Posso tirar o melhor de cada pessoa.

Não é um trabalho muito solitário o seu? 
Durante o processo de fotografar, sim! Por outro lado, estou sempre em contato com pessoas nesse negócio.

Faz tudo realmente sozinha? Produção inclusive? 
Sim, faço tudo sozinha. “Meus eus“ me consomem muito tempo. Mas desde que me apaixonei por minha profissão tenho conseguido dar conta de meus projetos.

A solidão é necessária para a liberdade e independência total? 
No caso de minha arte, sim!

Como é o processo do seu trabalho? Você tira uma foto, avalia e posa novamente ou faz vários cliques e só depois pára pra ver? 
De várias formas. Para os close-up uso o cabo de disparo rápido de uma certa distância primeiro, e depois uso o tripé na base de 10 segundos.

Site oficial de Flora P.: www.florap.com

Fotógrafo retrata profissões utilizando bebê como modelo


O que fazer quando crescer? É a pergunta fundamental para toda criança e adolescente. Seguir a profissão dos pais? Arriscar a vida artística? O que rende financeiramente? Com um futuro a frente, o bebê modelo da série de fotos do fotógrafo francês Malo possui várias possibilidades, retratadas nesse divertido ensaio.

Com fantasias que vão de papa, soldado, bailarino, surfista e até açougueiro, Un jour, mon enfant tu seras! (Um Dia Meu Filho Será!, em tradução literal), retrata o desejo dos pais de planejar a carreira dos filhos, mesmo que ainda sejam bebês. Confira e divirta-se!










terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Enquanto isso em Xerém...

Foto: Rafael Barreto

Foto: Rafael Barreto

Foto: Rafael Barreto

Instantâneos da história



Reproduzido do suplemento “Ilustríssima” da Folha de S.Paulo, 6/1/2013


No final dos anos 1920, com as limitações da indústria gráfica, os jornais raramente traziam aos leitores notícias ilustradas. A fotografia era praticada sob limitações, como o formato das câmeras, as chapas de vidro e o uso necessário de tripés. Os lentos processos de revelação e copiagem eram seguidos pela transposição da imagem para o clichê e pela impressão nos jornais.

O fotógrafo, que operava sob condições precárias – chapas de baixa sensibilidade, iluminação gerada pelo pó de magnésio e, frequentemente, com a câmera apoiada –, raramente obtinha um flagrante. As fotos eram posadas, tirando-lhes o encanto do momento, da espontaneidade.

Na virada da década, o Brasil experimentava um quadro político de transição, às vésperas da Revolução de 1930. A criação de uma publicação com características modernas para a época foi uma sugestão de Getúlio Vargas, ainda presidente do Estado do RS, a José Bertaso. Nascia, assim, em Porto Alegre, em 1929, a Revista do Globo.

Alguns anos antes, Getúlio, então ministro da Fazenda, em troca de apoio político, havia financiado a iniciativa de Assis Chateaubriand de criar a revista O Cruzeiro. A imprensa brasileira ganhava uma nova linguagem gráfica, complementando as reportagens, até então, pobremente ilustradas. Nascia, ao mesmo tempo, o fotojornalismo, ferramenta que daria dinâmica ímpar à informação. O fotojornalismo chegou ao Brasil à sombra de uma aventura política que mudou o país. E a ela permaneceria próxima, tão parte do nosso dia a dia.

A grande mostra dessa proximidade estava nas imagens – hoje de grande valor histórico – de um grupo de gaúchos amarrando seus cavalos no obelisco existente na avenida Rio Branco, no Rio. Imagem dinâmica que se seguiu à emblemática fotografia do carro oficial que transportava em seu interior o já ex-presidente Washington Luís para fora do Palácio do Catete, a caminho do exílio.

Em um dos seus primeiros números, na edição de 10 de novembro de 1928, O Cruzeiro publicara um anúncio que instituía um prêmio de 500 mil-réis destinado ao fotógrafo, profissional ou amador, que apresentasse o instantâneo inédito de um acontecimento que pudesse ser considerado sensacional pelo assunto e pela técnica de execução.

Aventura 

A partir desse espírito, pela objetiva de fotojornalistas da equipe de O Cruzeiro, começou a ser ilustrada a história dessa grande aventura brasileira. Pautado pelo chefe de reportagem, lá vai ele, mundo afora, o andarilho dotado de coragem e criatividade: não sabe o que lhe aguarda, prefere mesmo não saber.

Hoje numa cidade moderna, ontem no sertão, antes numa tribo de índios, com os xavantes, por exemplo, fotografados pela primeira vez, frente a frente, por José Medeiros. Ou com os ianomâmis, que hospedaram o fotógrafo por 40 dias, numa aldeia de onde ficou impossível sair pela força das águas numa cheia de um rio.

Um dia, sem comida, entrou em confronto com o colega Arlindo Silva, velhos amigos, os dois armados, pela disputa de uma coxa de macaco. Fome faz dessas. Depois, riram muito e dividiram a pouca carne. Ou fechado numa camarinha, como nos 15 dias em que Medeiros acompanhou a iniciação de iaôs, as filhas de santo, na Bahia. Ou fotografando estoicamente o colega José Leal ser surrado pela polícia, em Pernambuco, a mando de um chefe de polícia cuja mulher foi delatada pelo jornalista, nas páginas de O Cruzeiro, por ostentar joias roubadas.

Na Assembleia Legislativa de Alagoas, José Medeiros estranhou que, numa tarde de sol e imenso calor, vários deputados entrassem na casa com pesadas capas de chuva: as metralhadoras só foram reveladas quando o tiroteio começou. Orlando Villas-Bôas estranhou um grupo de índios xavantes cantando de forma diferente do habitual. Foi na direção da cantoria e se deparou com José Medeiros deitado numa rede, cercado de uns dez índios, a quem ensinava a letra de “Nature Boy”.

Por aí afora, as aventuras de uns e outros foram se sucedendo. Contar todas é impossível. Eugênio Silva, do bureau de MG, exercia suas folgas pescando no rio das Velhas e devolvendo às águas os peixes que fisgava. Acompanhou Guimarães Rosa, a cavalo, para documentar as andanças do escritor pelos “grandes sertões veredas”. Ficaram grandes amigos, e Eugênio chorou a morte do acadêmico, três dias depois de tomar posse na Academia Brasileira de Letras.

Indalécio Wanderley, especialista em concursos de misses, propôs casamento a uma candidata desde que ela abandonasse a disputa. Casaram-se e tiveram filhos.

Luciano Carneiro veio para o Rio pilotando um teco-teco, tirou brevê de paraquedista com Charles Astor e partiu para o aventureirismo que a fotografia brasileira esperava. Foi procurar, África adentro, o dr. Schweitzer, médico que mantinha uma colônia de leprosos em Lambarene. De lá, trouxe magistral documentário, operado com câmera Leica, em preto e branco, fotos feitas com a luz ambiente.

Viajou para a Coreia para cobrir a guerra. Para convencer um coronel que poderia saltar com as tropas americanas – por sugestão do militar –, Luciano subiu numa mesa e mostrou como se jogar no espaço. Foi aprovado, saltou, fotografou durante o tempo em que esteve solto no espaço. Foi à frente de batalha e voltou para o Rio, são e salvo. Morreu num acidente como passageiro de voo comercial, voltando de Brasília, onde fora fotografar um desfile de debutantes.

Henri Ballot, que trabalhava no escritório da revista em São Paulo, fazendo dupla com Jorge Ferreira, era dotado de grande coragem. Acompanhando Orlando Villas-Bôas, legou ao arquivo da revista os melhores momentos de um Brasil central sendo descoberto. Na juventude, foi membro da Força Aérea da França Livre, braço de pilotos franceses da RAF, a Força Aérea Real, da Inglaterra.

Ballot voava num Spitfire quando foi abatido sobre a Alemanha. Levado para um hospital americano, foi pela mão de uma enfermeira que tomou contato com a sua primeira câmera fotográfica. Saiu da convalescença, meses depois, já fotógrafo. Depois, trouxe para a aventura fotojornalística a mesma coragem de piloto de guerra. [...]

Meias verdades 

A revista trazia em seu trajeto uma série de assuntos nunca bem explicados – Jean Manzon, autor de fotos posadas; verdades somadas a meias verdades, estas assinadas por David Nasser – e que comprometiam o que era esperado de uma publicação que havia conquistado alto grau de credibilidade junto ao público de todo o país.

Luiz Carlos Barreto, junto com Indalécio Wanderley, jovens cearenses, começaram na redação da revista A Cigarra, editada pela Empresa Gráfica O Cruzeiro. Tinham a ideia de formar uma dupla, Indalécio, fotógrafo amador, e Barreto, recém-saído das fileiras da Polícia do Exército.

A convivência nos corredores da redação os levou para as páginas da grande revista. Finalmente integrados na equipe de O Cruzeiro, cada um foi para o seu lado, amadurecidos para o dia a dia que a pauta da redação determinava.

Numa viagem à França, Barreto acompanhou Chateaubriand a Cannes para um almoço oferecido a grandes nomes da imprensa internacional pela proprietária do Grupo Life-Time, Clare Boothe Luce. Como Chatô dormia a qualquer momento, em qualquer lugar e a qualquer hora, pediu que o fotógrafo, dispensado de fotografar, sentasse à mesa, à sua frente, para acordá-lo caso fosse tomado pelo infalível sono.

“Seu Barreto”, Chatô nos tratava a todos desta forma cordial, “essa americana é uma chata, fala demais, vou ter que sentar ao lado dela. Se eu dormir, cutuque a minha canela para me acordar.” Dito e feito, no decorrer do almoço, Chatô dormiu e acordou várias vezes, resultado da prosaica ação praticada por Barreto.

No Rio, ao voltar, Leão Gondim ouviu do grande chefe a reclamação de que Barreto poderia ter sido “mais delicado”, mostrando a canela marcada pelas cicatrizes deixadas pela boa ação praticada pelo jovem repórter.

Indalécio ocupou-se em fotografar para capas de O Cruzeiro, em especial a cantora Dóris Monteiro, à época mais um caso amoroso de Assis Chateaubriand.

Trotsky 

Mário de Moraes teve sua aventura internacional no México, em 1956, ao tentar entrevistar o assassino do ex-comissário soviético Leon Trotsky, o “profeta armado da Revolução Russa de 1917”, tarefa até então tida como impossível, já que ele, conhecido como Jacques Monard, nunca havia dado entrevista. Quando um repórter insistia, ele ficava furioso, tendo até agredido alguns jornalistas. Na penitenciária mexicana onde Monard se encontrava, Mário de Moraes conseguiu uma entrevista com o diretor-geral. Disse que estava fazendo uma reportagem para O Cruzeiro sobre o sistema penitenciário mexicano, tido como um exemplo mundial em organização:

“Levou-me a conhecer o estabelecimento, e, na visita, acabamos nas oficinas, onde Monard trabalhava, e fomos apresentados. Não lhe dei a menor importância, já que isso fazia parte do meu plano. Conversamos um pouco, até que, levado por uma vaidade mórbida, o assassino de Trotsky me indagou se eu sabia quem era ele, disse que não, e ele foi contundente:

“– Sou Jacques Monard, o assassino de Leon Trotsky.

“Eu chegara aonde queria, fui arrancando-lhe informações, e Monard foi claro, matara Trotsky porque ficara desiludido com ele. A história provou que isso era falso: Monard conseguira aproximar-se de Trotsky por meio de uma secretária do ex-comissário soviético, e, cumprindo ordens (possivelmente de Stálin), matou-o com uma picareta de alpinista, que levara escondida debaixo de seu sobretudo. Quando percebi que já tinha o suficiente para dar um “furo” internacional, contei a Monard que era jornalista. Ele ficou a ponto de me atacar, mas terminou aceitando o fato, afinal reconheceu que revelara para mim o que não havia dito e nenhum outro jornalista. Poucas fotos foram discretamente feitas, a meu pedido, com a minha Leica, por um funcionário da penitenciária.”

Jacques Monard chamava-se realmente Ramón Mercader e era agente da polícia secreta de Stálin. Ele fora condenado a 20 anos de prisão no México. Quando saiu da cadeia, foi para a União Soviética, mas faleceu em Cuba.

Ubiratan de Lemos era um repórter investigativo e foi dos poucos que nunca se arvorou a fotografar. Mário de Moraes, também redator, fotografava. Numa época em que o bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, era o reduto/destino de retirantes vindos do Nordeste, viajando, penosamente, em caminhões apelidados de pau de arara, os dois voaram para Fortaleza e, de lá, acompanharam uma leva de gente que vinha buscar uma nova oportunidade de vida no sul. A matéria – com fotos de forte dramaticidade – foi publicada com grande destaque em seis páginas. Deu à dupla de repórteres o primeiro Prêmio Esso de Reportagem, instituído naquele ano.

***

[Flávio Damm, 84, é fotógrafo. Trabalhou por uma década e meia na revista O Cruzeiro e fundou, com José Medeiros, a agência Image. Uma seleção de seu trabalho pode ser conhecida no livro Flávio Damm (Editora Senac)]

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Morre, aos 83 anos, fotojornalista que revelou as primeiras imagens da revolução cubana



No último domingo (6/1), morreu o fotojornalista espanhol Enrique Meneses Miniaty, que revelou as primeiras imagens da revolução cubana, informou o portal Jornal de Notícias. Nascido em Madrid, ele estava com 83 anos.

O fotojornalista viveu no exílio em França entre 1936 e 1944, onde sofreu a ocupação alemã e regressou a Espanha, em 1945, após um ano em Portugal. Em Salamanca e em Madrid estudou Direito e, em 1952, graduou-se na Escola Oficial de Jornalismo.

Miniaty colaborou com diversos veículos de imprensa de diversos países, como o Paris Match. Nessa condição ele se infiltrou na guerrilha cubana, tendo sido o primeiro fotógrafo estrangeiro no grupo liderado por Fidel Castro, com o qual conviveu quatro meses.

Ele passou os negativos das fotos conseguidas para o exterior de Cuba cosidos na roupa de uma jovem cubana. Porém, a publicação custou-lhe a expulsão da ilha.

Autor de diversos livros, Miniaty foi também repórter de guerra. Ele passou pelos conflitos da Rodésia, Angola, Bangladesh e de Sarajevo, em 1993. Esse ultimo deu origem à sua última reportagem antes de problemas de saúde o impedirem de trabalhar.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

NX300, da Samsung: uma câmera mirrorless que tira fotos em 3D com apenas uma lente

A Samsung NX300 é uma grande reformulação da NX210 do ano passado e incluiu um monte de melhorias básicas na câmera mirrorless de médio porte da empresa. E também tem modo de foto e vídeo em 3D. Ninguém pediu por uma tecnologia nova brilhante que usa uma única lente para capturar imagens em 3D, mas a Samsung fez do mesmo jeito. E funciona!

A NX300 é a primeira mirrorless que tira foto 3D. Então como isso funciona? Para isso, você vai precisar da nova lente 45MM f/1.8 2D/3D de US$ 600. Como o nome sugere, você pode tirar fotos em 2D e 3D. Quando você mexe na chave no lado da câmera de 2D para 3D, duas pequenas portas aparecem:

Quando gravamos vídeos essas pequenas portas alternam o bloqueio da luz de um lado para o outro em 30 rotações por minuto. O efeito 3D é criado ao interlaçar as imagens de cada uma das perspectivas.

Mesmo que pareça improvável que uma pequena diferença na perspectiva possa criar efeitos 3D, isso funciona. Não é Avatar, mas baseado nas imagens que a Samsung nos mostrou, o efeito definitivamente funciona. O objeto em foco aparece fisicamente distante do fundo. A terceira dimensão é mais um sentimento de profundidade do que um objeto pulando da tela. Algumas vezes pode parecer um pouco falso, e às vezes quando tem um objeto em primeiro plano que está fora de foco o efeito parece estranho.

Fotojornalista francês expõe a "realidade caótica" do México em livro

De 2008 a 2011, o fotojornalista francês Jerome Sessini adentrou em algumas das mais violentas cidades do México - Culiacán, Tijuana, and Ciudad Juárez – e documentou a crescente “decomposição” da população do país.

Publicadas em um livro intitulado “The wrong side”, as fotografias oferecem uma visão nítida das paisagens urbanas da fronteira mexicana, informa a New Yorker. “Eu sempre fui fascinado pelo México”, diz Sessini.

“Eu achei necessário entrar nessas casas, ouvir a história dos trabalhadores, prostitutas e viciados em heroína, e mostrar uma imagem mais realista disso tudo, diferente da imagem clichê do traficante mexicano com um bigode e um rifle dourado”, conta o jornalista.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Fotógrafo morre atropelado após clicar carro de Justin Bieber


Um paparazzo foi atropelado e morreu após fotografar o carro de Justin Bieber nesta terça, 1, em uma via expressa de Los Angeles, nos Estados Unidos. As informações são do site TMZ. Fontes garantem que o astro teen canadense não estava dentro do veículo quando o acidente aconteceu.

De acordo com o Los Angeles Times, o caso se deu por volta das 18h, na Sepulveda Boulevard, quando o carro de Bieber foi parado pela polícia. O paparazzo, então, decidiu sair do seu veículo para tentar fotografar a cena. Após ser aconselhado pelos policiais a voltar, por causa do grande volume de tráfego, ele foi atingido por outro carro que passava por ali.

Não foram encontrados vestígios de drogas ou álcool no carro que atropelou o profissional. A polícia de Los Angeles afirma que seguirá com as investigações.