terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Filme de formação - Cristiano Mascaro

Revista Cult - ed.187

No início do curso de arquitetura na Universidade de São Paulo, entre seus dezoito e vinte anos de juventude pulsante, Cristiano Mascaro era um assíduo frequentador do tradicional Cine Bijou, um dos primeiros cinemas alternativos da cidade. O número 174 da Praça Franklin Roosevelt é lembrado pelo fotógrafo como um local de exibição de belíssimos filmes artísticos, destacando os brasileiros O grande momento (1958), de Roberto Santos, e São Paulo S/A (1965), de Luís Sérgio Person.

Naquela época, o Cinema Novo, assim como a Nouvelle Vague, ilustrava a inquietação do movimento artístico cultural dos anos 1960, e foi o filme Lola, a flor proibida (1961), primeiro longa de Jacques Demy, que despertou um encanto apaixonado em Mascaro. Lola (Anouk Aimée) é a "prostituição light, longe de ser caricata", que dança em um Cabaret na constante espera do retorno de Michel (Jacques Hardem), namorado e pai de seu filho, já há sete anos na América. Ao longo da trama, Lola é requisitada por outros dois rapazes, Roland (Marc Michel), um amigo de infância, e Frankie (Alan Scott), um marinheiro serviçal da marinha americana.

O filme, fotografado pelo francês Raoul Coutard, surgiu em uma época em que Mascaro já ambicionava ser fotógrafo, mas não de cinema. Ele conta ter sido influenciado para a fotografia também pela Nouvelle Vague, principalmente por querer se expressar da mesma maneira como faziam os artistas do movimento. "Era o clima todo. As imagens em preto e branco, o slow motion explorado gratuitamente e a linguagem nova, longe dos filmes coloridões e dos grandes espetáculos clichês americanos".

Das cenas mais marcantes, Mascaro destaca o romantismo presente no momento em que Lola e Frankie correm em câmera lenta após saírem de um dos brinquedos de um parque de diversões - e declara que até hoje, "quando as coisas estão meios chatas", entra no Youtube para rever a cena. "O que sempre me interessou muito é o retrato da vida cotidiana visto com sensibilidade. Assim como na fotografia, esse filme retrata o comum, sem efeitos especiais e sem histórias de heróis".

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