terça-feira, 24 de setembro de 2013

Fotografia e Arte, entre goles de cachaça

Por Anne Caroline Medeiros/Jornal de Hoje

“Minha vida é ligada à fotografia há mais de 20 anos, desde o Movimento Estudantil, quando dei meus primeiros passos. Depois, veio o movimento de bairro, sindical, político, partidário de esquerda, indígena e, hoje, a cultura popular. Fotografei Lula todas as vezes que ele veio a Natal, antes dele ser presidente. Já levei tiro durante uma ocupação do MST, expus mais de 80 vezes, inclusive na Europa, e contribuí, graças ao meu trabalho, para o reconhecimento oficial de quatro das comunidades de origem indígena do nosso Estado”.

Este é apenas um fragmento da história do fotógrafo e pesquisador Lenilton Lima, palestrante da II edição do projeto Cachaça Filosófica, que será realizada nesta quarta-feira (25), a partir das 18h, no Mercado de Petrópolis. Além de contar sua história, Lenilton vai mostrar alguns trabalhos inéditos.

O Cachaça Filosófica é um projeto independente, que discute temáticas que envolvem ciência, filosofia e arte de forma leve, atraindo desde pessoas que nunca tiveram contato com a filosofia até as que a discutem com profundidade. Além da palestra, o projeto tem em seu programa atrações culturais e degustação gratuita de cachaças. Após a palestra, haverá a apresentação musical do grupo União Raiz Brasil. Entrevistado pelo Jornal de Hoje, Lenilton Lima antecipa um pouco a temática de sua palestra e fala sobre sua história e a relação com a fotografia:

O Jornal de Hoje – Como surgiu seu interesse pela fotografia?
A minha paixão pela fotografia foi despertada quando meu irmão Leilton começou a pagar a disciplina de fotojornalismo na UFRN. Na época, estávamos sem nos falar, mas me recordo que tive que fazer as pazes para pode pegar a câmera fotográfica. Então, o que ele aprendia passava para mim. Tomei gosto e não parei mais.

JH – O tema das políticas sociais e culturais é forte no seu trabalho. Por que este foco?
Nasci em 1968, um ano tenso em todo mundo. Como sou de origem humilde, ficava impaciente com as injustiças. Logo cedo, comecei a participar de grupos de jovens e grêmios escolares, mas sempre fui consciente de que meu discurso era ruim. A saída foi aprender a fotografar para expressar meu posicionamento político e meus sentimentos.

JH – Sobre a experiência com os indígenas, como é a vivência nestas comunidades?
Duas coisas que eu aprendi a gostar, sob a influência da minha mãe e avó: cultura popular e indígena. Minha avó, Maria Luciano de Pontes, era filha de uma índia com um loiro dos olhos azuis. Só que ela tentava esconder o tempo todo a sua origem indígena. Acredito que foi isso que me despertou para o tema. Através da minha mãe, fiquei sabendo das “brincadeiras” que meu avô fazia em frente ao seu barracão (bodega): o evento era regado à beleza das pastoras, boi de reis, jogos e muita cachaça. Minha mãe e meus tios eram proibidos de irem às festas, mas, iluminados por candeeiros a querosene, assistiam a tudo escondidos atrás de um cerca. Depois, fiquei sabendo por uma prima que minha origem paterna é de índio e cigano. Então, além de defender a origem do meu povo e da cultura brasileira, também honro os meus parentes não tão distantes.

JH – E como pesquisador, qual a sua atuação?
No ano de 2010 fui convidado pelo professor Severino Vicente a fazer parte dos quadros da Comissão de Folclore do RN. Severino fez uma renovação, convidando jovens pesquisadores para compor a comissão. Esse foi um momento de orgulho, por causa do reconhecimento do meu trabalho. Também sou articulador da República das Artes e do Ponto de Cultura Boi Vivo.

JH – Quais os momentos que você considera mais marcantes nestes mais de 20 anos de carreira?
Desde que aprendi a fotografar, a fotografia foi minha companheira de vida. Com essa companheira pude viver bons e maus momentos. Em 1995, durante minha pesquisa sobre as ocupações de terras no Rio Grande do Norte, enquanto eu fazia o registro de uma reintegração de posse da fazenda Vale da Esperança, em Rio do Fogo, levei um tiro que quebrou a tíbia em cinco lugares. Essa ação truculenta da polícia me deixou de cama durante um ano. Mas, cinco anos depois, com este mesmo projeto, participei dos 500 anos do Brasil na Europa, em Viena (Áustria), com a exposição “Os que se recusam a morrer de fome”, através do projeto Esquina do Brasil, de Civone Medeiros.

JH – O que você está preparando para o “Cachaça Filosófica”?
Basicamente, vou contar minhas histórias na fotografia e mostrar alguns trabalhos inéditos. Nesses mais de 20 anos de atuação, criei um grande acervo fotográfico que acredito ter mais de 15 mil fotogramas. Muitas dessas imagens ainda são inéditas para o público. Os temas das minhas fotografias são diversos, mas escolhi as imagens ligadas à arte e cultura, que faz mais o perfil do evento.

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