terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

“Fazer jornalismo sério custa dinheiro, trabalho e tempo”, afirma fotojornalista

Foto:Dario Lopez  Mills

Jornalista de formação, Adriana Zehbrauskas pode ser considerada uma profissional do mundo. Logo depois de se formar, mudou-se para Paris, onde cursou linguística pela Universidade de Paris, em Sorbonne. Foi na capital mais romântica do mundo que Adriana se apaixonou pela fotografia, influenciada por grandes nomes como Cartier-Bresson, Brassai e Sebastiao Salgado. 

Residiu em Nova York e viajou o Brasil e o mundo como fotógrafa da Folha de S.Paulo, onde ficou até 2003. Em 2004, mudou-se para o México, lugar de onde faz seus cliques até hoje. Vencedora pela primeira vez do "Troféu Mulher IMPRENSA" na categoria repórter fotográfica de jornal ou revista, Adriana comprova que seu trabalho realmente ultrapassa fronteiras. "Fico muito feliz por esse reconhecimento no meu país, principalmente depois de estar fora há tantos anos"

IMPRENSA - Como você analisa o mercado do jornalismo e do fotojornalismo?

ADRIANA ZEHBRAUSKAS - O jornalismo, e aqui incluo o fotojornalismo obviamente, está passando por um momento muito crítico globalmente. A tecnologia, que por um lado nos ajuda, por outro prejudica os jornalistas profissionais em última instância. A própria sociedade se alimenta de conteúdo gerado muitas vezes por pessoas inexperientes, despreparadas e inconscientes das consequências, muitas vezes desastrosas, que uma matéria ou uma fotografia podem gerar.

IMPRENSA - Mas, a falta de um profissional capacitado é sentida?

Se o "citizen journalism" (termo para “jornalismo participativo”) é uma necessária faceta desse mercado, ele jamais poderá tomar o lugar do jornalismo sério e respeitoso, feito por pessoas comprometidas moral e eticamente com seu trabalho, suas fontes de informação e o público em geral.  Fazer jornalismo sério custa dinheiro, trabalho e tempo. E hoje mais do nunca, as empresas de comunicaçao devem continuar a mandar jornalistas a cobrir histórias e notícias, mesmo pesando o grande custo financeiro e, muitas vezes, emocional. É nossa missao expor o que nossos governos e exércitos fazem em nosso nome e um direito da populaçao saber.

IMPRENSA: Se tivesse que destacar prós e contras da profissão, quais seriam?

Os prós seriam ver a história acontecer com seus próprios olhos, conhecer todos os tipos de lugares e pessoas, a possibilidade de poder trabalhar em qualquer lugar do mundo. Os contras são nao ter hora ou dia para nada, carregar muito peso, alta competitividade e salários baixos.

IMPRENSA - Tem algum trabalho de grande projeção que você destacaria?

Fiz muitas matérias interessantes e que me deram certa projeçao, mas acredito que o que realmente me deu maior destaque foram meus projetos pessoais, ensaios desenvolvidos a partir da curiosidade pessoal em relaçao a alguns temas, como por exemplo, projeto sobre a fé no México e no Brasil (aprovado pelo Ministério da Cultura e atualmente e fase de captaçao de recursos para ser publicado pela Bei Editora em Sao Paulo) e “Tepito, Barrio Bravo”, que conta a história de um bairro central da Cidade do México e foi selecionando para o Transamérica PHotoEspaña  2012.

IMPRENSA - Você está participando de um filme. Como surgiu essa ideia e como você foi convidada?
O filme já está pronto e chama-se “Beyond Assignment”. Foi produzido pelo Knight Center for International Media e a Universidade de Miami. Conta a trajetória de três mulheres fotojornalistas que trabalham em projetos pessoais: eu no México, Mariella Furrer na África do Sul, e Gali Tibbon em Israel. O diretor estava buscando alguém da América Latina e chegou a mim através de recomendações. Naquele momento eu estava começando o projeto em Tepito e depois de conhecer o trabalho e de muitas conversas, ficou decidido que eu faria parte do documentário. A equipe entao veio para o México e me acompanhou durante uma semana.A estreia será em 10 de março no Festival de Cinema Internacional de Miami.

IMPRENSA - Quais os conselhos que você daria aos iniciantes na área?

Primeiro é preciso estar consciente de que a moeda do fotojornalismo é a credibilidade. Fotografe o que você vê e apresente o que você viu.  A manipulaçao de imagens, seja na forma (digital)  ou no conteúdo  (inventar situações, colocar coisas na cena que nao estavam lá etc.) é absolutamente proibido, pode custar a sua carreira, por em risco a credibilidade do meio de comunicao e da categoria como um todo. A diferença do fotojornalismo e da fotografia fine art (belas artes) é que, no segundo caso, o fotógrafo conta a sua própria história ao mundo, e no primeiro, o fotógrafo conta a história dos outros. Respeito e ética sao valores fundamentais para poder desenvolver o trabalho. Encontrar sua própria voz, ter muita curiosidade, paciência, perseverança e usar sapatos cômodos!

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