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Cartier-Bresson.(Foto:Autor Desconhecido/Todos os Direitos Reservados) |
“Henri Cartier-Bresson torna-se fotógrafo no dia de 1932 em que compra uma Leica em Marselha. Surgida há pouco no mercado, a câmera permitia agilidade na tomada de plano — é seu batismo de fogo. O artista encontrou seu instrumento. Impossível não lembrar as palavras de Paul Morand: ‘Aos doze anos me deram uma bicicleta. Depois, nunca mais me encontraram…’
A Leica será seu objeto mitológico. Dela nunca mais se separará, seja no exterior, seja na intimidade. Na rua, em casa, na casa das pessoas, em todos os lugares, o tempo todo, nunca se sabe. Não é um hábito de artista, mas de caçador de recompensas. Sempre pronto para atirar, à espreita, de sobreaviso. Mas isso não impede o sentimento. Raras vezesse viu identiciação tão completa entre um homem e uma máquina, uma osmose tão feliz entre uma alma e um mecanismo. Como um casal de amantes, poderíamos dizer que ele era a contraparte dela, e ela a contraparte dele. Eles parecem feitos um para o outro. Ao prolongar seu olhar da maneira mais natural possível, a máquina faz parte dele. Depois disso ele nunca mais abandonou sua Leica.
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Robert Doisnea.(Foto:Autor Desconhecido/Todos os Diretos Reservados) |
O 6×6 é um estado de espírito, o 24×36 outro. Robert Doisneau vê na Rolleiflex a apoteose da cortesia, do respeito, da humildade. Inclinados diante das pessoas, não as provocamos olhando-as de frente, nos olhos. Henri Cartier-Bresson vê na Leica a arte da caça, feita com outros instrumentos. É uma atitude agressiva, pois é uma pontaria. A primeira vez que esses dois homens se encontram, quando Doisneau, admirador incondicional de Cartier-Bresson, ousa mostrar-lhes suas primeiras reportagens, ele ouve:
‘— Se o bom Deus quisesse que se fotografasse em 6×6, ele teria colocado nossos olhos na barriga. É incômodo olhar as pessoas pelo umbigo. E depois que você se curva, só falta emendar no pai nosso…’”
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