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Foto:Luiz Braga |
Quando começou as suas primeiras experiências com uma câmera, brincando aos 11 anos com um kit do Instituto Universal Brasileiro, Luiz Braga descobriu o prazer da fotografia. Nascido em Belém do Pará, o "menino de Belém" cresceu observando as particularidades das redondezas onde morava. Ingressou na faculdade de arquitetura, pela falta de um curso de fotografia na época, e, no trajeto de inda e vinda, observava a população ribeirinha que vivia na periferia da cidade.
Braga ficava encantado com a força e sabedoria do caboclo forte, as cores do barro, das frutas e dos rios, que, segundo ele, tinham uma "pujança visual e multicolorida". Sua decisão de permanecer na cidade natal por toda sua carreira ocorreu principalmente por querer demonstrá-la como os residentes a viam. "Queria construir o meu discurso e a minha obra a partir da minha vivência".
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Luiz Braga |
O olhar de Braga através do visor foi amadurecendo, buscando a qualidade e o domínio técnico, mas também sem superestimá-lo. As primeiras exposições (1979 e 1981), em preto e branco, remetiam à fase clássica da fotografia com seus grandes expoentes Bresson e Doisneau. Porém, Braga trazia uma temática nova que mostrava os caboclos, os marajoaras e a periferia, em uma época em que a fotografia não era percebida como arte. "Tive que me impor não só como fotógrafo, mas como artista e ainda retratando a periferia que não era o bom gosto dominante na época".
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Foto:Luiz Braga |
Em 1984, realizou a exposição "No Olho da Rua", no Centro Cultural São Paulo, a sua primeira em cor, e esboçou os primeiros traços do que viria a ser um artista autoral. Sobre as fotografias de Braga, Paulo Herkenhoff, curador e crítico de arte, afirmou que traduziam um "olhar da Amazônia sobre si mesma" e não apenas um fugidio disparo de um fotógrafo "de fora".
Para conseguir realizar os seus trabalhos autorais, os quais para ele são os mais prazerosos, Luiz realizou ensaios publicitários, campanhas políticas e pautas para jornais e revistas. Hoje, orgulha-se de poder viver da venda de seus trabalhos artísticos e autorais.
Apesar de sua obra ser revestida primeiramente por uma "camada estética", Braga acredita que a fotografia e a arte em geral têm um viés jornalístico pelas histórias que elas narram. "Você começa a mergulhar na imagem e perguntar: quem é essa mulher? De onde vem? Como é sua vida? As perguntas começam a ser respondidas por aquela foto que não tinha intenção jornalística. Você começa a perceber as histórias". Ele conta que, a princípio, era muito afoito ao fotografar e não parava para ouvir os relatos dos fotografados.
Com a experiência e conselhos de colegas, aprendeu com os "objetos" de sua câmera, agregando valor humanístico às fotos. "A fotografia como arte não precisa da legenda para sobreviver. Porém, despi-la das possibilidades que tem de contar uma história também é 'burro'; é desprezar um caráter que ela tem em sua própria natureza", defende.
Braga lamenta, porém, a mudança drástica no cenário de Belém nos últimos anos. A beleza que a principio o instigou visualmente e a receptividade da população ribeirinha com o fotógrafo, hoje, são mais difíceis de serem encontradas por causa da insegurança da região. "A violência, silenciosamente, está transformando a forma como artistas estão filtrando a sociedade", afirmou. "Teria que me transformar em um correspondente de guerra em minha própria casa".
As cores do trabalho do belenense, produzidas com nenhum ou mínimos retoques digitais, são uma das características mais marcantes de sua obra. A combinação de luzes naturais e artificiais com a subversão do filme fotográfico gera efeitos visuais saturados de cores vibrantes.
Sejam pessoas ou paisagens, o foco da câmera de Luiz procura por objetos intrigantes. "A foto me seduz por me manter inquieto. Uma nova maneira de ver um tema antigo". Um recente encontro com a natureza, durante uma viagem a Anavilhanas (AM) para um ensaio para a revista ZUM, do Instituto Moreira Salles, que marcou profundamente sua obra e deu uma guinada em sua carreira. "A magia e o silêncio que encontrei lá me tocou tanto, que acabei fotografando aquilo que eu sempre neguei. Me vi fotografando a paisagem, mas de forma subversiva. Parece que é algo quase idílico, etéreo; quase um sonho".
Sobre o trabalho que lhe rendeu o "Prêmio Leopold Godowski Jr. Color Photography", da Universidade de Boston, em 1991, Braga diz que a foto premiada veio de um achado, de um "erro". Ele expôs um filme calibrado idealmente às 9 horas da manhã. Pegou-o e fotografou no fim da tarde, quando a temperatura não era propícia, e misturou luzes artificiais que vinham da rua, produzindo tons de verde. "O que eu enxergava não era o que apareceria na foto. Eu consegui intuir". Percebeu que seu trabalho podia ser universal quando uma pessoa viu sua foto durante a exposição e comentou: "Eu posso sentir o cheiro da água".
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Foto:Luiz Braga |
Diante de milhares de possibilidades que a tecnologia traz para a experimentação fotográfica, o "menino de Belém" preferiu manter-se fiel à simplicidade de suas raízes e de suas temáticas. Nem por isso desacredita na diversidade de olhares que os novos aparelhos de imagem - os iPhones, iPads e câmeras de celulares - podem trazer para o mundo visual. "O que esses instrumentos fazem hoje, que era inviável na época do filme, é a possibilidade de finalmente trazer à tona a multiplicidade dos olhares". Para o artista, o abuso das tecnologias impõe o "desafio de driblar a banalização" com uma nova enxurrada de informação. "O que me preocupa hoje não é mais como fazer, é como preservar", reflete, sobre a falta de suportes materiais das fotos digitas para que possam ser revisitados e redescobertos. "No fim, permanece o olhar".
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