Igo Bione |
O trabalho cotidiano nas redações de jornal é puxado. Sejam separados por paredes, por editorias, categorias ou não, nos vemos distantes - alguns por horas a fio - do nosso colega ao lado. Isolados pela concentração na apuração e na construção do texto, às vezes não estabelecemos sequer um contato visual direto com os companheiros de trabalho.
Vivendo esta atmosfera há quatro anos (1 ano e 3 meses no Jornal do Commercio), o fotógrafo Igo Bione, 27, resolveu quebrar a rotina das redações. Ele convida algum colega para o estúdio do JC e, despidos de qualquer coisa que possa tirar a atenção, os "modelos" são fotografados. Após edição - para serem colocadas em preto e branco, com objetivo de valorizar as formas - Igo publica o "falso nu" dos fotografados em sua página pessoal do Facebook. E o efeito é imediato.
Jacques Waller, do JC Online |
E Igo procura brincar com a identidade do repórter, lançar um olhar diferente sobre aquela pessoa. Uma repórter vista sob um olhar mais terno, o fotógrafo tenta revelar uma face sensual. Um repórter mais sisudo tem revelado seu sorriso. O jogo desperta a curiosidade entre os colegas de redação, que inevitavelmente se tornam mais conhecedores do fotografado.
Beatriz Braga, do Caderno C |
"É algo sem uma superprodução. Desmistifica o estúdio", afirma, lembrando do tradicional Estúdio Foto Beleza (existente desde 1931), onde as pessoas pagavam caro para serem fotografadas. "Tinha gente que mal nascia e era levado para o Foto Beleza. Então até hoje as pessoas veem essas fotos como algo glamuroso ou caro", recorda, avaliando que faz bem para a auto-estima do fotografado.
Ele passa menos de 10 minutos no estúdio com cada repórter escolhido. As mulheres no máximo passam um corretivo no rosto ou um batom. Os homens só tiram a camisa. "É a rapidez e a versatilidade do fotojornalismo levado para o estúdio", diz. Para conseguir o melhor lado, a expressão procurada, Igo Bione escolhe seus modelos após bom período observando-as no dia a dia.
A ideia surgiu após fazer a foto de uma colega. "Eu vi aquela foto e pensei 'isso pode dar algo interessante'", lembra. Na mesma semana, ao ver uma colega de redação com corte de cabelo novo, chamou-a para uma foto. Fez no mesmo formato. E gostou. Lançou ambas no Facebook e teve o sucesso mensurado pelas curtidas e comentários.
Desde então foram 25 fotos publicadas. Tem sido positivo para o ambiente de trabalho e também para Igo, que estava buscando algo em que pudesse se soltar mais, fugir um pouco do fotojornalismo. A ideia é focar o trabalho na redação do Jornal do Commercio.
Igo Bione é formado em Relações Públicas, mas começou a estudar fotografia ainda na faculdade. Com um curso básico, começou a fazer trabalhos free-lancer e foi chamado para o seu primeiro veículo de comunicação em 2009. "Sempre gostei de fotografar gente", garante. Chegou a dar aulas de luz e flash - algo que ele pretende retomar. Bione destaca os trabalhos especiais Tramas da Renda, de Novembro de 2012; e Ternura e Delito, publicado no Jornal do Commercio deste domingo.
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