O ex-fotógrafo da extinta revista Manchete, Sérgio Vital Tafner Jorge, revelou à Isto É que a imagem oficial da morte do militante de esquerda Carlos Marighella foi montada pelos oficiais da repressão.
"Eu vi os policiais colocando o corpo no banco de trás do carro", revelou Sérgio Jorge, fotógrafo que registrou a imagem do guerrilheiro executado.
O testemunho de Jorge desmancha a versão oficial dos militares sobre a execução de Marighella, tido na época como inimigo número 1 do regime militar.
A foto que correu foi tirada na noite de 4 de novembro de 1969. De acordo com versão dos militares, o guerrilheiro foi atraído para um “ponto” com simpatizantes de sua organização, a Ação Libertadora Nacional (ALN) e, após troca de tiros com os agentes que estavam passando pelo local, foi morto.
A versão do fotógrafo é outra. Sérgio Vital Tafner Jorge conta que estava cobrindo a partida entre Corinthians x Santos no estádio do Pacaembu quando soube da morte do militante na Alameda Casa Branca. Sérgio Jorge deixou o estádio e foi ao local acompanhado de quatro fotógrafos que tiveram tempo de ver a montagem da imagem que seria tida como oficial durante mais de 40 anos.
“Foi tudo uma farsa. “Eu vi os policiais colocando o Marighella no banco de trás do carro”, revela.
Ségio Jorge conta que ao chegar ao local ele e os outros fotógrafos foram recebidos aos gritos pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury ordenando que nenhuma imagem fosse feita e que as câmeras fossem colocadas no chão. “Era uma loucura, ficamos vendo tudo aquilo acontecer sem poder registrar nada”, afirma.
Segundo o fotógrafo, quando chegou ao local. Marighella estava no banco da frente. Entretanto, três policiais retiraram o corpo do automóvel e o deitaram na calçada, mas quando tentaram recolocá-lo no banco de trás não conseguiram e foi preciso que um dos policiais desse a volta no automóvel e puxasse o corpo para dentro.
Sérgio Jorge diz que a montagem da cena pelos militares durou cerca de 40 minutos e, somente depois desse período os fotógrafos foram autorizados a fotografar. Quando se aproximou do carro para fotografar ele pôde ver que havia uma pasta atrás do banco dianteiro e uma peruca e uma capa no banco de trás.
Durante mais de 40 anos, Jorge guardou para si os fatos daquela noite, que é capaz de reconstituir em detalhes e agora está está decidido a contar tudo para a Comissão da Verdade.
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