Alguns anos, uma pacificação, um fotoclube e uma conversa com Dilma Rousseff depois, a carreira de Itan deslanchou.”Eu falei para eles que ia virar fotógrafo profissional, mas eles não acreditavam”, disse ele à BBC Brasil.
Filho de uma família pernambucana, Itan chegou ao Rio aos 9 anos com a mãe, que logo voltou para o Recife e o deixou morando com os tios, no Complexo do Alemão. Aos 16 anos, começou a economizar para comprar uma câmera.
Depois de passar por três empregos, conseguiu comprar uma máquina semiprofissional e trocou o trabalho fixo por bicos de fotógrafo em festinhas.
Enquanto isso, fazia registros do dia a dia na comunidade, buscando captar cenas pouco vistas do Alemão.
A mania de fotografar as obras do teleférico do Alemão chamou a atenção do presidente da empresa responsável pela construção. Itan foi convidado a expor suas fotos na inauguração do teleférico, em julho.
Quando o dia chegou, a presidente Dilma Rousseff compareceu, viu as fotos do rapaz e quis saber quem era o fotógrafo. Itan, que estava do lado de fora da solenidade, foi chamado às pressas e apresentado à presidente.
“Ela perguntou se eu tinha emprego, e eu disse que não. Então perguntou se eu queria ir para Brasília trabalhar com ela”, conta Bruno.
“O (governador do Rio, Sérgio) Cabral estava perto e falou que era melhor eu ficar no Rio, que ele me dava emprego no Palácio. Hoje em dia, sou um dos fotógrafos do governador”, conta Itan.
O jovem foi contratado como estagiário do núcleo de fotógrafos do governador há quatro meses, e deve ser efetivado no início do ano que vem.
Durante a semana, acompanha a agenda de Cabral, mas nos fins de semana, suas lentes se voltam para a comunidade, nas saídas do fotoclube que fundou com dois amigos.
A ideia veio no primeiro carnaval após a ocupação, em uma conversa com Dhani Borges – fotógrafo que deu um curso no Alemão em 2008 e passou a ser amigo e grande incentivador de Itan. Agora que as coisas estavam calmas, por que não montar um fotoclube?
“Achava que muitos jovens deviam ter vontade de praticar a fotografia, assim como eu, mas tinham medo. Com a pacificação, pensei: A hora é agora”, diz Itan.
Os amigos convocaram uma primeira saída fotográfica nas redes sociais e conseguiram atrair três pessoas para a estreia do fotoclube, na Quarta-feira de Cinzas. Desde então, vêm se reunindo todos os sábados. No último encontro contaram com 33 participantes, entre moradores e curiosos.
“Não é um curso, é uma troca de experiências. Cada um vai ensinando o que sabe.”
Nessas saídas, o grupo visita diversos pontos da comunidade – como a estrada de terra que liga o Alemão à Vila Cruzeiro, por onde traficantes fugiram do cerco policial na ocupação, ano passado.
Além das saídas fotográficas, Itan continua fotografando a comunidade, sejam cenas do cotidiano ou episódios de conflito. No ano passado, ele tirou várias fotos da ocupação do Alemão, mas esses registros não existem mais.
“Tive que apagar todas as 450 fotos que tinha tirado depois que um policial civil me pegou em um beco. Ele quis ver as fotos e me obrigou a apagar”, diz.
Um ano depois da ocupação, Itan diz que a principal mudança é não haver mais tráfico armado e ostensivo, e que houve melhorias na infraestrutura, com avanços em saneamento básico, asfaltamento e retirada de moradores que moravam em encostas.
Mas a ocupação prolongada do Exército, segundo ele, cria outros conflitos. “A relação da população com o Exército está muito complicada.”
“Eles estão preparados para a guerra, mas não para dialogar com moradores. E o morador não sabe dialogar com autoridade, porque nunca teve autoridade lá dentro”, diz. “O diálogo está bem complicado”.
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